Crítica | ‘Branca de Neve’ de 2025 escancara os problemas da Disney com suas princesas

Crítica | ‘Branca de Neve’ de 2025 escancara os problemas da Disney com suas princesas

2 Abril 2025 Não Por Claudinei Silva

O remake de “Branca de Neve”, lançado em 2025, é considerado um dos piores já produzidos pela Disney, e as polêmicas que o cercam só agravaram a recepção negativa da obra.

Quem cresceu assistindo aos clássicos das princesas Disney provavelmente tem sua favorita. No entanto, é raro ver Branca de Neve no topo da lista. Apesar de ter sido a primeira princesa da Disney e protagonista do primeiro longa-metragem de animação do estúdio, lançado em 1937, a personagem nunca teve o mesmo apelo duradouro de outras heroínas como Cinderela ou Ariel.

Com a estreia do novo filme em 21 de março, uma versão em live-action chegou aos cinemas, acompanhada de um turbilhão de controvérsias. Desde os primeiros anúncios, a produção já enfrentava resistência — e boa parte disso se concentrou na escolha do elenco.

Rachel Zegler e Gal Gadot foram anunciadas como protagonistas, e a expectativa da Disney provavelmente era de sucesso. Zegler, que já havia trabalhado com o estúdio em “Amor, Sublime Amor” (2021), foi o principal alvo de críticas e ataques. A situação piorou quando, em agosto de 2024, ela participou do evento D23, promovido pela Disney, onde foi exibido o primeiro trailer do filme.

Pouco depois, Zegler fez uma postagem na rede social X (antigo Twitter) agradecendo aos fãs pelas visualizações. Em uma resposta ao próprio post, ela escreveu: “e lembrem-se sempre: Palestina livre”. A frase gerou uma onda de críticas violentas, especialmente entre os fãs de Gal Gadot, que é israelense. Segundo a revista Variety, Rachel passou a receber ameaças de morte e a Disney teve que reforçar a segurança pessoal dela e de seus familiares.

Mesmo após essa reação, Zegler continuou expressando suas opiniões políticas. Próximo ao período eleitoral, ela publicou nos stories do Instagram críticas ao ex-presidente Donald Trump e a seus eleitores, e posteriormente teve que se desculpar por meio de outra publicação na mesma rede.

Além das questões políticas, Zegler também foi alvo de comentários preconceituosos por sua origem latina. Muitos criticaram sua escalação para o papel de Branca de Neve, alegando que a aparência da atriz não condizia com a imagem tradicional da personagem. Curiosamente, quando interpretou Maria em “Amor, Sublime Amor”, parte do público teve a reação oposta, elogiando sua representatividade.

Outro ponto que gerou controvérsia foi a maneira como Zegler se referiu ao clássico de 1937. Em entrevista durante a D23 em 2022, ela descreveu o filme original como “estranho”, o que desagradou os fãs mais nostálgicos da animação.

Além das polêmicas fora das telas, o próprio filme acumulou decisões criativas questionáveis. Uma das mais criticadas foi a substituição dos sete anões por personagens gerados por computação gráfica (CGI), eliminando a oportunidade de trabalho para sete atores e criando figuras digitais consideradas perturbadoras por parte do público.

Com todos esses elementos negativos, assistir ao filme tornou-se uma experiência desconfortável. Mesmo com a intenção de dar uma chance à produção, houve vários momentos em que era difícil continuar acompanhando a história.

O roteiro tenta modernizar a narrativa, transformando Branca de Neve em uma líder corajosa e determinada. A ideia era abandonar a figura da donzela que espera por um príncipe, aproveitando a força vocal e a personalidade marcante de Zegler. No entanto, o roteiro ainda recorre ao interesse amoroso da protagonista para reforçar sua coragem, o que acaba enfraquecendo a mensagem de independência.

Outro problema foi o distanciamento do enredo em relação ao original. Mesmo para quem não é fã da animação de 1937, a versão antiga parece mais coerente do que este remake. O clássico pode até ser simples e ter uma trama rasa, mas há algo nele que o torna mais assistível. No remake, tentaram compensar a falta de história com novas cenas de exposição no início e no final, mas o resultado ficou desconexo.

No fim das contas, “Branca de Neve” de 2025 reflete os dilemas atuais da Disney ao tentar modernizar seus clássicos sem perder o encanto original. Neste caso, a tentativa resultou em um filme que falha tanto no conteúdo quanto na forma, deixando a sensação de que, talvez, algumas histórias devam permanecer como estão.